Tempo, tempo, tempo

Que tempo é esse onde temos que aprender… Como estar num tempo em que nada parece com o tempo que conhecemos! 

Onde buscamos equilíbrio, certezas, mais carinho, sabedoria e alegria?

No começo da pandemia me senti muito só e estranha! Sabe quando andamos com cuidado, atentos e concentrados? Não pode encostar nela ou nele, não toque em nada, limpe tudo, lave as mãos uma, duas, tantas vezes… Não beije e nem abrace, sorrir pode, atrás da máscara. 

Fique aí, dentro de casa. Não visite, nem receba visitas. Trabalhe on-line. Lives muitas, todo mundo falando, falando… Que tanto falamos sem dizer talvez, o que é preciso dizer?

Silêncio e calma. Silêncio. O espaço vazio, cidades vazias e quietas. Tudo parou. Silenciou.

O silêncio é bom. Santo, sagrado e profundo! O silêncio nos ensina a ouvir, primeiro ao redor os sons da natureza começam a oferecer aconchego e harmonia, tudo lindo! Os pássaros cantam cada um com música própria, juntos criam concertos naturais, tanto tempo esquecidos por nós que só percebemos isso na infância, antes dos algoritmos.

Depois ouvimos dentro de nós. No silêncio externo percebo que em mim é o barulho interior que causa sofrimento, angústia e insegurança. Paro para ouvir…

Difícil acalmar os ruídos, gritos e gemidos. Só. Muito medo e triste, muito triste. Morte, morte, morte.

Amigos queridos se foram em dias, semanas. Até parece que não aconteceu. 

Começo a ouvir dentro de mim e fora me encantar com a natureza! O céu está deslumbrante, de dia, à noite!

Meu olhar vai recuperando os detalhes e as cores antes não mais percebidas. Maravilha descoberta. 

Sou a natureza, a natureza sou eu, me identifico com a terra, grama, árvores e flores e me percebo viva.

Amada e encantada. Ainda doi, mas agora é bom porque é necessário para o renascimento.

Lembrei de mim, me esqueci de mim e passei a ver o outro, os outros, nossa Terra, nossa Casa, nosso lar.

E agora mergulho fundo, buscando descobrir a fonte de mim, da matéria, do universo. Tão fundo?

Infinitamente e líquido, água, transparente até o invisível… Descobri que nossas células têm mais espaço entre elas, do que a solidez. Descobri não, ouvi cientistas explicando as coisas do jeito deles. Mas vai ser transparente quando tomar a vacina… Sólida a pele, músculos e rigidez nos braços. Relaxe, relaxe, se entregue…

Respire. Inspire. Respire. Solte o ar… E percebo que faço parte do universo, sou o universo! Dentro de mim existem células de milhões de anos. Sou tão antiga quanto o todo, o tudo em mim.

E choro de gratidão, alegria misturada à pequenez e ao sublime. Sentimento, sem pensamento. Presença de pés descalços e alma à espera da chegada.